Organização do Espaço e do Tempo na Educação Infantil (fragmentos)
Maria Carmen Silveira Barbosa
Maria da Graça Souza Horn
(...)
A forma de organizar o trabalho deve possibilitar o envolvimento das crianças em sua construção, que terá dimensões diferentes se tomarmos como referência a idade das mesmas. Com as crianças bem pequenas, por exemplo, é fundamental observarmos sua linguagem, que se manifesta através dos gestos, olhares, chor... Nas maiores, é possível dialogar e compartilhar combinações. A ideia central é que as atividades planejadas diariamente devem contar com a participação das crianças garantindo às mesmas a construção das noções de tempo e de espaço, possibilitando-lhes a compreensão do modo como as situações sociais são organizadas e, sobretudo, permitindo ricas e variadas interações sociais.
(...)
O cotidiano de uma escola infantil tem de prever momentos diferenciados que certamente não se organizarão da mesma forma para crianças maiores e menores. Diversos tipos de atividades envolverão a jornada diária das crianças e dos adultos: o horário da chega, a alimentação, a higiene, o repouso, as brincadeiras - os jogos diversificados - como o faz-de-conta, os jogos imitativos e motores, de exploração de materiais gráfico e plástico - os livros de histórias, as atividades coordenadas pelo adulto e outras.
(...)
Para dispor tais atividades no tempo é fundamental organizá-las tendo presentes as necessidades biológicas das crianças como as relacionadas ao repouso, à alimentação, à higiene e à sua faixa etária; as necessidades psicológicas, que se referem às diferenças individuais como, por exemplo, o tempo e o ritmo que cada uma necessita para realizar as tarefas propostas; as necessidades sociais e históricas que dizem respeito à cultura e ao estilo de vida.
(...)
Alguns pontos servirão de norte e apoio para esta organização:
- Que tipo de atividades poderemos propor.
- Em que momentos são mais adequadas.
- Em que local serão melhor realizadas.
(...)
Atividades que envolvem o cuidado e a saúde são realizadas diariamente nas instituições de educação infantil e não podem ser consideradas na dimensão estrita de cuidados físicos. A dicotomia, muitas vezes vivida entre o cuidar e o educar deve começar a ser desmistificado. Todos os momentos podem ser pedagógicos e de cuidados no trabalho com crianças de zero a seis anos. Tudo dependerá da forma como se pensam e se procedem as ações. Ao promovê-las proporcionamos cuidados básicos, ao mesmo tempo em que atentamos para a construção da autonomia, dos conceitos, das habilidades, do conhecimento físico e social. Podemos exemplificar com atividades de:
- Alimentação: progressivamente tornar a criança mais autônoma, trocar a mamadeira pelo copo, comer com a própria mão, mastigar alimentos mais sólidos, participar da higiene, da elaboração e da organização do local das refeições, servir-se do alimento.
- Higiene: lavar as mãos com independência, vestir-se e despir-se, usar o banheiro de modo cada vez mais autônomo, guardar pertences e materiais individuais.
- Sono: oportunizar locais adequados para o sono e repouso, tendo o cuidado de oportunizar atividades relaxantes para os que não queiram dormir.
(...)
É oportuno referir que as atividades podem se estruturar em torno de eixos organizadores, como temáticas, que, através de um fio condutor, poderão se explicitar de modo interessante e contextualizado para as crianças. Assim pode-se partir de uma situação problema, de um fato surgido na sala de aula ou na comunidade, de um relato interessantes que uma criança fez e organizar estratégias pedagógicas para a construção de um estudo de modo adequado à faixa etária dos alunos. Tanto nos berçários como nas pré-escolas esta prática, que denominamos projetos, pode se concretizar. Os projetos com bebês têm seus temas derivados basicamente da observação da educadora, da leitura que realiza de seu grupo de crianças, dos elementos adquiridos na sua formação e que a auxiliam a discernir sobre atividades que podem ser importantes ao desenvolvimento das crianças.
(...)
O Uso do Espaço Externo
Espaços de interligação para jogos tranquilos
Um gramado com árvores, bancos de praça de alturas diversas, mesa e bancos de cimento (permanentes) para desenvolver no pátio certas atividades que geralmente são realizadas apenas nas salas - como desenho, pintura, recorte, culinária. Fazer piquenique, tomar banho de sol com guarda-sol, cadeiras preguiçosas, redes baixinhas. Materiais como bolas, canos, buracos no chão, estradinhas de areia para brincar com carrinhos, vasos grandes com plantas e flores. Também pode-se ter um armário onde são guardados os materiais do pátio e que funcione, também, como um lugar onde os bebês possam brincar de esconde-esconde, de puxar gaveta, abrir, entrar e fechar a porta, se esconder. Um labirinto com plantas relativamente baixas para se esconder ou estar sozinho. Aquário ou terrário para observar. Espaço para museu com coleções das crianças.
Espaço para brinquedos de manipulação e construção
Estrutura de calhas com roda de água e bacias para brincar com a água complementado por objetos para flutuar, coar, com funil, medidores, areia e pedras. Madeiras de diferentes tamanhos - pequeninas e bem grandes - para a construção e materiais de marcenaria. Caixa de areia com materiais para construir, fazer bolos. Pedras, madeiras, barrinhas de ferro para empilhar, fazer suportes e construções.
Espaço estruturado para jogos de movimento
Carrinhos para as bicicletas, carrinhos de bebês, carrinhos-de-mão, carrinhos de lomba, skate, patinete, carrinhos grandes tipo uma carrocinha puxada pelo adulto para as crianças bem pequenas passearem. Equipamentos como: trepa-trepa com estrutura de metal, de corda ou de madeira. Escorregadores altos e baixos, de preferência um para os adultos acompanharem as crianças menores. Estruturas em madeira com escada, ponte pênsil e tábua para escorregar, túneis de cimento e de madeira, gira-gira, equipamentos de ginástica para as crianças se pendurarem etc. Piscinas e bacias de diferentes tamanhos, esteiras para tomar sol.
Espaço para jogos imitativos
Casinha de bonecas com materiais grandes e reais para uso das crianças, gabinete médico, instituto de beleza, escritório, banco. Cabanas só com cobertura para ficar juntos, conversar, ouvir histórias. Suporte móvel para teatro de marionetes. Cesto com roupas para dramatização, espelhos, pinturas e caixa de jóias.
(...)
A sugestão de organizar os espaços através de temas que os caracterizam tem sido uma prática bem-sucedida nesta organização em espaços semi-abertos e estruturantes. Assim podemos sugerir alguns cantos, considerando obviamente a faixa etária das crianças:
Cantos fixos:
- Casa de bonecas com fogão, geladeira, TV, cama, mesa etc. objetos para utensílios de cozinha, quarto, banheiro... sala (estes poderão ser confeccionados com material de sucata).
- Canto da fantasia com pedaços de pano, tule, chapéus, sapatos, roupas... espelho, maquiagens.
- Canto da biblioteca com almofadas, tapetes, estante, painel de informações, livros, revistas e jornais.
- Canto da garagem com tacos de madeira para construção, carros, trilhas, placas de sinais de trânsito.
- Canto dos jogos e brinquedos com jogos de encaixe, de armar, quebra-cabeça, sucatas organizadas e variadas, peças de madeira.
Cantos alternativos:
Estes podem variar conforme o espaço físico, o interesse das crianças e os emas que estão sendo trabalhados.
- Canto da música com instrumentos musicais comprados ou confeccionados, rádio, toca-fitas etc.
- Canto do supermercado com embalagens vazias de diferentes produtos, sacos para empacotar, caixa registradora, dinheiro de papel e moedas, cartazes com nome de produtos, prateleiras.
- Canto do cabeleireiro com espelho, maquiagens, rolos, escovas, grampos, secador de cabelos, bancada, cadeira, bacia, embalagem de xampu, cremes.
- Canto do museu com objetos colecionados pelas crianças em passeios, viagens.
- Canto da luz e da sombra com projetor de slides, lanternas, retroprojetor, filmes feitos pelas crianças, lençóis.
Este texto é uma sugestão e de tudo o que lemos, devemos analisar e re-significar, retendo o que é bom, relendo de tempos em tempos...
muito interessante se em todas as "escolas" existisse todos estes recursos os professores trabalharia melhor para o desenvolvimento emocional e social da criança ,gostei de mais.
ResponderExcluirEsta também deve ser uma pauta da reivindicação coletiva de todos os professores da educação infantil. Todos juntos somos fortes!
ResponderExcluirObrigada pela visita!
Gostei, este texto retrata uma realidade que deve ser vivida em toda classe de Educação Infantil. Cabe ao educador projetar esta realidade em sua sala de aula de forma criativa e significativa.
ResponderExcluirgostei muito ,vou adapitar na minha escola.
ResponderExcluirPrimeiro faz-se necessário aprender a escrever para depois trabalhar com nossas crianças!Adaptação é uma opção e não um verbo escrito desta forma!Com carinho,tá!
ExcluirOlá, sou jornalista e estou escrevendo uma reportagem para a revista EI - Educação Infantil sobre a organização do espaço e do tempo nesse nível de ensino. Estou entrevistando escolas, professores e gestores da educação infantil sobre esse assunto. Meu prazo é curto: a entrevista seria por telefone até segunda-feira, dia 11. Caso vocês tenham interesse em colaborar, meu email é carmen@editorasegmento.com.br. Muito obrigada!
ResponderExcluirÉ INTERESSANTE AS DICAS QUE VCS DÃO PARA A PREPARAçÃO DO AMBIENTE DE ACORDO COM CADA FAIXA- ETÁRIA,SOU PROFESSORA DO ONFANTIL EM UMA TURMA E NA OUTRA ATUO NO TERCEIRO E QUARTO ANO,VOU ADAPTAR AS DICAS DE ACORDO AS NECESSIDADES DE MINHAS TURMAS, USANDO OS RECURSOS QUE A ESCOLA OFERECE. LER E ESCREVER SÃO COMPETÊNCIAS FUNDAMENTAIS E QUE NOSSAS CRIANÇAS PRECISAM DESENVOLVER LOGO NOS PRIMEIROS ANOS QUE FREQUENTAM A ESCOLA , MAS A ORGANIZAÇÃO DO AMBIENTE CONTA MUITO. ELEVA A AUTO-ESTIMA E PERMITE O ENVOLVIMENTO DOS MESMOS NA REALIZAÇÃO DAS TAREFAS PROPÍCIANDO UM APRENDIZADO DE FORMA DIFERENCIADA E UM MELHOR RENDIMENTO NA REALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES PROPOSTAS TRANSPORTANDO COM MAIS RAPIDEZ PARA O MUNDO DA LEITURA E ESCRITA. PARABÉNS AMEI AS DICAS!
ResponderExcluir